Perspectivas para o setor de M&A no Brasil
Por Luiz Fleury, CFP®️
Recentemente, a HLB Internacional compartilhou as perspectivas para fusões e aquisições (M&A) em 2024, adotando um otimismo cauteloso no cenário global, refletindo políticas monetárias mais restritivas, desafios inflacionários em algumas regiões e as consequentes condições de crédito mais restritas, juntamente com possíveis riscos relacionados às escaladas de conflitos.
No contexto das fusões e aquisições (M&A) no Brasil em 2024, embora os riscos globais não possam ser ignorados, vislumbramos um cenário mais otimista. Os primeiros meses de 2023 foram marcados por um ambiente complexo para transações no país, devido à situação econômica desafiadora, refletida indiretamente na percepção do mercado em relação ao Risco Brasil (CDS de 5 anos), que ultrapassou os 200 pontos-base, alcançando picos superiores a 270 pontos-base.
Vários fatores internos e externos contribuíram para esse cenário, incluindo a volatilidade do cenário internacional, a incerteza na economia real, a transição política em andamento, os efeitos da inflação em determinados setores, as consequências das políticas monetárias restritivas e eventos negativos significativos no mercado de crédito local, afetando atores importantes. Com um acesso reduzido ao financiamento e a economia real enfrentando dificuldades, tornou-se desafiador para as partes envolvidas em fusões e aquisições chegarem a acordos de preços. Além disso, diante da falta de visibilidade mínima, muitos participantes interrompem suas atividades para preservar o capital, adiando qualquer negociação até que haja um horizonte mais claro e menos volátil. Como resultado, tanto o número quanto o volume de negócios foram diretamente afetados.
No segundo semestre, avanços políticos e econômicos no cenário local geraram aumento relativo da confiança. Houve início da queda nas taxas de juros e progresso em reformas específicas, levando o Risco Brasil (CDS 5 anos) a cerca de 140 bps. Embora tenhamos observado alguma recuperação nas fusões e aquisições em comparação com o início do ano, a volatilidade no mercado internacional impactou negativamente, resultando em uma diminuição significativa de mais de 28% no valor e 22% no número de transações em 2023.
O setor de Tecnologia (Infraestrutura, Software e Serviços de TI) se destacou, representando mais de 45% das transações, seguido por Consumo (17%), Indústria (11%), Serviços Financeiros (9%), Energia (8,5%), Saúde (4,5%) e Agronegócio (4%).
Os maiores deals de 2023 incluíram transações nos setores de Mineração, Alimentos e Bebidas, Saúde, Papel e Celulose, Alimentação, Energia e Financeiro com operações Vale, Marfrig, BRF, Kopenhagen, Arauco, Fogo de Chão, Copel e Prismo.
Observou-se uma participação significativa de compradores estratégicos (~80%) e atores financeiros oportunistas. Em relação às características das transações, houve vendas de ativos não estratégicos com foco na desalavancagem, negociações envolvendo empresas em dificuldades, aquisições direcionadas a alvos capazes de gerar melhorias operacionais e sinergias significativas. Vale ressaltar que, com mais frequência, foram utilizadas estruturas de aquisição relativamente mais criativas, incluindo earn-outs, opções e instrumentos conversíveis, para alcançar um consenso de percepções entre as partes envolvidas.
Para 2024, apesar dos riscos externos, mantemos uma perspectiva positiva, especialmente para o segundo semestre. Esperamos uma relativa estabilidade macroeconômica no mercado interno, com a contínua queda das taxas de juros, que devem alcançar até 9%, conforme indicado pelo Boletim Focus. Prevemos um aumento na oferta de crédito, a retomada no mercado de capitais tanto para dívida quanto possivelmente para ações, o desenlace de acordos represados do ano anterior, o retorno de uma atuação mais agressiva por parte dos players financeiros, que obtiveram uma captação líquida de R$42 bilhões por meio de Fundos de Investimento em Participações em 2023 e devem aumentar essa captação para o ano atual, exits de private equities e uma ligeira melhoria na confiança dos atores em geral, resultando em cenários menos nebulosos.
Apesar de ser cedo para tirar conclusões definitivas, é digno de nota que, somente no primeiro mês do ano, já observamos alguma melhora, com um aumento de 12% no número de negociações, de acordo com mídias especializadas, o que está em linha com as tendências que temos observado no dia a dia.
Quanto aos setores promissores, os destaques de 2023 devem se manter, porém destacamos M&A em tecnologia, transição energética, consumo, serviços financeiros e agronegócio.
No setor de tecnologia, os movimentos "ecossistêmicos", nos quais as empresas buscam integrar capacidades tecnológicas, devem continuar. Além disso, prevemos uma consolidação adicional no mercado de serviços de TI, uma maior demanda por segurança cibernética, IoT/conectividade, Inteligência Artificial, soluções de Big Data, CRMs e Everything as a Service (XaaS). Antecipamos que as aquisições de empresas de fora do setor de tecnologia continuarão, visando a estratégia "buy vs build", para acelerar a transformação digital.
No que diz respeito às startups, esperamos que as Fintechs, Energytechs e empresas de Supply Chain continuem se destacando neste ano. No entanto, também estamos acompanhando de perto o desenvolvimento de agritechs, martechs e hrtechs.
Vale ressaltar que muitas Fintechs precisaram realizar ajustes e reorganizar seus negócios para se tornarem mais claramente focadas na rentabilidade, adotando modelos mais sustentáveis a médio prazo. No momento, estamos bastante otimistas em relação aos movimentos de consolidação entre Fintechs complementares, liderados por aquelas que entraram em 2024 com uma posição financeira sólida.
O setor de transição energética será impulsionado por diversos fatores, incluindo iniciativas relacionadas ao ESG, aumento da eficiência, regulamentações e oportunidades de mercado. Antecipamos movimentos de aquisição, como a entrada de players industriais no segmento de energia limpa para se tornarem autoprodutores, a consolidação de empresas ao longo da cadeia de valor da geração de energia solar e eólica, investimentos em soluções tecnológicas de energia, aquisições de empresas para explorar o mercado de energia livre, expansões no mercado de biogás e a aquisição de projetos greenfield e brownfield em diversos segmentos.
O agronegócio é um setor que está passando por um momento especial tanto global quanto localmente, e é esperado que também vivencie consolidações oportunísticas, especialmente em revendas, fertilizantes e sementes.
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