Brasil celeiro do mundo: Uma luz surge para o Pós-Crise
Por Madeleine Blankenstein
Sim, a atual pandemia, em que pesa todas as terríveis implicações, tem acendido uma interessante “luz no fim do túnel” para mercados emergentes, em especial o Brasil.
O país tem uma forte perspectiva de, em breve, se tornar um verdadeiro “celeiro para o mundo”, e não estamos falando só no aspecto de exportação de bens alimentares, mas de todos os setores.
Claro que tudo que se diz sobre o pós-crise, ainda envolve uma boa dose de especulações. Mas algumas coisas já podem ser avistadas como um futuro certo, dentre elas, uma muito importante: a dinâmica das relações globais vai ser completamente modificada.
Vejamos alguns dos principais aspectos que certamente nos afetarão positivamente.
a) maior multiplicidade de players no mercado internacional:
Um dos aspectos que parecem óbvios, e que se confirmam mais a cada dia, é que quando os mercados reabrirem, e a economia voltar a circular, terá desaparecido do cenário internacional aquela “bipolaridade” de mercado (EUA-China) que existia até então.
Seja pela dificuldade e pelo longo tempo de recuperação da economia americana, seja pela dificuldade crescente que a China encontrará para dar sequência em suas parcerias comerciais com o resto do mundo.
Isso abrirá portas para uma nova dinâmica de relações internacionais, que privilegiará as relações locais e intra-blocos.
Nesse sentido, um grande mercado consumidor, anteriormente inacessível pela forte concorrência internacional, se abre para o Brasil (o maior produtor da América Latina em quase todos os setores).
b) maior ascensão dos países em desenvolvimento:
Além disso, estudos mostram que o tempo de recuperação da economia de países em desenvolvimento será muito menor do que para as grandes economias.
Um estudo da McKinsey & Company, por exemplo, mostra como em um cenário de início de recuperação no final de 2020, grandes economias como EUA e a União Europeia levarão ao menos 4 anos para retornaram aos patamares econômicos pré-pandemia. Enquanto países em desenvolvimento como o Brasil, terão o mesmo desempenho em um ano e meio a dois anos. Uma grande vantagem pensando em competitividade global.
c) perspectivas de novos mercados:
Além disso, a União Europeia já estava sofrendo pressões antes mesmo do coronavírus. O Reino Unido decidiu por plebiscito sair da mesma (o famoso Brexit), e diversos outros conflitos entre os países mostravam uma relativa instabilidade do bloco.
A pandemia da COVID-19 reforçou o desequilíbrio dentro da Europa ─ Alemanha e França aparentemente tem mais dinheiro e estrutura para lidar com a situação, enquanto Itália, Espanha e Portugal se deparam com mais problemas.
No dia 13 de maio, em entrevista para o Financial Times, Emmanuel Macron, presidente da França, expôs sua preocupação pela manutenção de um equilíbrio para a sobrevivência da Europa como bloco.
Um aspecto importante para nós, é que a União Europeia têm constantemente afirmado que uma das principais saídas que enxergam para a crise são os acordos comerciais fora do eixo EUA-China. E um dos principais acordos que eles têm nesse sentido é com o Mercosul (que teve sua assinatura política anunciada no ano passado).
Essa é uma das razões pelas quais as tratativas do acordo têm andado nos bastidores de toda essa crise do coronavírus a toque-de-caixa. As equipes de negociadores têm se reunido com regularidade e o texto final do acordo está em vias de ser divulgado nos próximos dias.
Em outras palavras, em breve, teremos um ambiente de livre mercado abrindo para as empresas brasileiras, um mercado consumidor de 32 países (com público consumidor de mais de 500 milhões de pessoas), com redução de impostos de exportação em 93% de toda a pauta de produtos e serviços.
Por que isso tudo é importante para o Brasil? Ao que parece, o mundo vai emergir da crise menos globalizado, mas a criação de economias autossustentáveis não ocorre do dia para a noite.
Apesar dos problemas criados pela mudança climática e a falta de infraestrutura, o Brasil continua sendo o potencial grande celeiro para o mundo.
Com o maior uso da tecnologia, poderemos aumentar a produtividade e a competitividade dos produtos agrícolas brasileiros para criar mais oportunidades internacionais.
Porém, precisamos abrir novos espaços, ou melhor, desbravar novos horizontes para escoar a produção sobressalente. Sim, porque com maior produtividade, e preços mais baixos, a demanda pelo produto nacional irá aumentar, mesmo que haja pouca liquidez no mercado.
Ao que parece, o consumidor vai procurar produtos e serviços que venham de “perto de casa”.
Desta forma, como dissemos, o comércio com o Mercosul, e a procura de novos mercados para os produtos brasileiros, deve ser a pauta principal para as empresas brasileiras daqui para frente.
E para ter uma oferta de produtos industrializados, de boa qualidade e preço, que dispense as caras importações, precisamos tornar nossos parques industriais mais eficientes, competitivos e tecnológicos.
Sem dúvida, a tendência é de diminuição da ocupação de grandes escritórios, crescente transformação digital dos mercados, e os investimentos em infraestrutura de transporte se tornarem cada vez mais relevantes. Precisamos nos adaptar e abastecer nossas cidades e o mundo de forma ágil e eficiente.
Mesmo confinados em nossas casas é importante continuar a ter novas ideias e buscar soluções criativas e benéficas para todos.
O mundo não para, pode estar doente, mas, mesmo fragmentado e preocupado, precisa dos serviços e produtos brasileiros. E nós brasileiros, que já passamos por tantas crises, vamos também passar por esta, de cabeça erguida e mais fortes de quando tudo isso começou.
Madeleine Blankenstein é sócia de relações institucionais da HLB Brasil.