A turbulência política na AL e impactos na economia
Os recentes acontecimentos no Chile e na Bolívia trouxeram preocupação para um continente que patina economicamente faz muitos anos. Mesmo o Chile, até então país que se destacava na região, sofre com demandas da sociedade, insatisfeita com as condições de vida. A Bolívia, país com quadro político diferente do Chile, acabou por testemunhar a renúncia do presidente Morales após anos no poder.
Será esta a nossa primavera árabe? A Venezuela é a bola da vez? Exageros à parte, importa observar a percepção dos agentes econômicos, sobretudo fora da América do Sul, quanto aos desdobramentos destes eventos. A incerteza no quadro político e social poderá afugentar investimentos externos na região, deteriorando ainda mais a economia. Outro desconforto enfrentado pelos investidores é o pêndulo ideológico desta parte do continente. Ora pende para um viés liberal, ora aponta para uma visão intervencionista. O Brasil é prova disso. Até o impeachment da presidente Dilma a palavra “privatização” era proibida, contudo hoje temos um Secretário de Desestatização!
Voltemos ao Chile e Bolívia. Na hipótese de deterioração econômica no curto prazo daquelas economias, qual seria o impacto no Brasil? Nossa balança comercial com ambos países, apesar de superavitária, não é relevante em termos globais. No caso da Bolívia, a pauta de importação está concentrada no gás natural (94%), com queda gradual de nossa dependência, impondo desafio adicional a Bolívia. Portanto, não se espera impacto significativo em nossa economia por conta da queda da atividade econômica naqueles países.
Deve-se aguardar eventuais desdobramentos políticos e sociais em outros países da região, sendo este o verdadeiro risco para o Brasil e seus vizinhos. A instabilidade social e a imaturidade econômica podem isolar ainda mais esta parte do continente.
Polarizada a América do Sul já está. Aguardemos os próximos capítulos.
Marcelo Fonseca é economista e líder do escritório do Rio de Janeiro da HLB Brasil