Caribe: Perspectivas Econômicas e Impactos sobre o Investimento Estrangeiro Direto
Por Marcelo Fonseca
BREVE ANÁLISE ECONÔMICA
O Caribe é uma região formada por várias ilhas e se caracteriza pela diversidade de seus países devido às diferenças econômicas, políticas, étnicas e sociais. Muitas dessas ilhas fazem parte do território ultramarino de outros países, e muitas são nações soberanas. Na maioria dos casos, os países do Caribe têm estabilidade política. Entretanto, cada uma dessas nações possui características econômicas específicas, sendo evidentes as disparidades entre elas, como os níveis de pobreza observados no Haiti. As características heterogêneas da região e os impactos decorrentes de eventos recentes – a pandemia e a guerra na Ucrânia – moldarão as projeções futuras para a entrada de recursos de investimento estrangeiro direto.
A região foi duramente afetada pela pandemia da COVID-19, devido à queda no setor de turismo, bem como à desaceleração abrupta da atividade econômica global. O número de turistas despencou, atingindo o fundo do poço em maio de 2020. Houve sinais de recuperação econômica no primeiro trimestre de 2021, mas o movimento perdeu força no segundo trimestre, devido ao reaparecimento de casos de COVID. A pandemia e seus efeitos na economia podem ter deixado cicatrizes econômicas que dificultarão a retomada do crescimento de muitas nações da região.
A guerra na Ucrânia resultou em um cenário de incerteza econômica global, afetando negativamente a região. Especificamente, o Caribe será afetado pela queda do comércio global, pois os principais parceiros comerciais da região (Estados Unidos, China e União Europeia) experimentarão um declínio no crescimento econômico. Os déficits em conta corrente também devem manter-se altos devido à queda das receitas do turismo e ao aumento dos preços dos produtos importados. A inflação é outro fator de pressão sobre a atividade econômica mundial, levando os bancos centrais a aumentarem suas taxas de juros para conter as altas persistentes nos preços.
O resultado dessa política será a deterioração das contas públicas dos países endividados e a desaceleração da economia nesta região e globalmente. As nações que dependem da atividade turística terão dificuldades maiores para enfrentar o cenário projetado. Por outro lado, a crise nos preços da energia resultante da guerra na Ucrânia trouxe boas notícias para os países produtores de petróleo e gás (por exemplo, a Guiana).
O Caribe é uma região formada por várias ilhas e se caracteriza pela diversidade de seus países devido às diferenças econômicas, políticas, étnicas e sociais.
Em função da situação global, a previsão de crescimento para a região é a seguinte:
No contexto econômico, destaca-se um subgrupo de países da região, conhecidos como "pequenos estados caribenhos": Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Jamaica, Monserrat, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trindade e Tobago.
A análise desse grupo é representativa dos desafios da região na atração de investimentos estrangeiros diretos. Um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)1 aponta uma série de problemas estruturais dos pequenos estados caribenhos: baixo crescimento, baixo crescimento das exportações, alto nível de dívida pública em relação ao produto interno bruto, níveis de pobreza, desemprego juvenil elevado. Esses indicadores reduzem a competitividade dessas nações, impactando o crescimento econômico, estabelecendo as condições para um ciclo vicioso.
VISÃO GERAL DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO
Eventos recentes (a pandemia e a guerra na Ucrânia) trouxeram mudanças estruturais para o mundo. Esses eventos, principalmente o mais recente, colocam em xeque o movimento de globalização econômica, obrigando corporações e governos a reavaliar parcerias (por exemplo, blocos econômicos) e estruturas produtivas e logísticas. A velha ordem mundial não é mais confiável, exigindo novas estratégias geopolíticas e de negócios.
É nesse contexto que se manifesta a retomada dos investimentos estrangeiros no Caribe. Para o Caribe, a palavra de ordem é "diversificação". Alguns países estão buscando atrair capital por meio do desenvolvimento em novos setores da economia, pois a alta concentração no setor de turismo se mostrou frágil diante da situação imposta pela pandemia. As quedas no setor de turismo variaram de 57 a 84%. Apesar de programas de auxílio governamentais, espera-se que leve anos para que o setor volte aos níveis pré-pandemia.
A tabela abaixo mostra a importância deste setor para as economias locais:
Esforços para diversificar a economia estão sendo feitos em alguns países, com apoio do governo. Nações como Belize, Guiana, Santa Lúcia e Ilhas Cayman, entre outras, estão desenvolvendo setores como energia renovável, agricultura, educação, turismo médico e soluções de processos de negócios (BPS).
Um fator que poderia contribuir para a maior diversificação das economias caribenhas está associado à nova organização mundial que está surgindo como resultado da contração do movimento de globalização.
Nesse sentido, haveria algum retraimento global em relação à liberalização comercial atualmente em vigor em todo o mundo, o que poderia contribuir para gerar os incentivos necessários para o desenvolvimento de novas atividades econômicas nos países. Essa é obviamente uma hipótese ainda a ser confirmada; no entanto, alguns estudos apontam para a existência de uma correlação negativa entre abertura econômica e diversificação da economia.
Os desafios para a diversificação vão desde problemas com desastres naturais até falta de recursos e dificuldades na obtenção de apoio de financiamento público devido a espaço fiscal limitado. A falta de reformas sociais e o baixo investimento em educação também contribuem para explicar essa situação.
Apesar das dificuldades que os países caribenhos estão enfrentando, espera-se que o fluxo de investimento estrangeiro cresça na região. A guerra na Ucrânia, que está afastando os investimentos da Rússia, pode beneficiar países politicamente estáveis e que têm relações com blocos comerciais que reformularão o comércio global. A inserção comercial pode trazer os benefícios esperados em termos de investimento estrangeiro direto.
Abaixo estão alguns dados sobre o investimento estrangeiro direto na região. Apesar do maior volume estar concentrado no turismo e na indústria de óleo e gás, existem diversos projetos em outros setores, o que pode sugerir o potencial da região para receber investimentos.
A análise de um período mais longo (2013-21) revela os países que receberam projetos como segue:
Este artigo não tem como objetivo explicar as razões do fluxo de capitais para os países mostrados acima. No entanto, espera-se que hipóteses já exploradas em estudos econômicos possam explicar a distribuição2.
Para analisar os países que investem na região, foram compiladas informações sobre projetos de investimento estrangeiro que ocorreram entre 2017 e 2021. Fica clara a importância da América do Norte e da China na composição dos projetos de investimento.
CONCLUSÕES
A região do Caribe é caracterizada por sua heterogeneidade. Apesar dos efeitos negativos resultantes da pandemia e da guerra na Ucrânia, espera-se que a economia retorne ao estágio pré-COVID-19 em alguns anos. Os países da região estão buscando diversificar suas economias como forma de atender às demandas por melhores condições de vida para suas populações. Os desafios continuam os mesmos; aumentar a competitividade de suas economias exigirá investimentos em infraestrutura e educação. Essas são questões estruturais que precisam ser abordadas em meio ao impacto da pandemia e da guerra.
Uma nova composição geopolítica do comércio mundial, representada pela contração da "globalização", poderia oferecer uma boa oportunidade para atrair investimentos estrangeiros. A retomada do setor de turismo e o aumento dos preços da energia podem impulsionar novos investimentos em alguns países, abrindo espaço para que eles foquem no desenvolvimento de novos setores.
Texto original: https://worldfinancialreview.com/caribbean-economic-prospects-and-impacts-on-foreign-direct-investment/
Referências
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Latin American Economic Outlook (https://www.oecd.org/dev/americas/).
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Para uma análise das razões do IED, consulte "Motives Underlying Foreign Direct Investments: A Primer", Franco et. al., (http://www4.pucsp.br/icim/portugues/downloads/pdf_proceedings_2008/31.pdf).