Copom anuncia aumento da taxa Selic e sinaliza nova alta para os próximos meses

Por Marcelo Fonseca

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O Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou no último dia 5 de maio, a decisão de elevar a taxa Selic de 0,75 ponto percentual, para 3,50% ao ano.

Sendo a segunda alta seguida de juros, o comunicado do aumento já era esperado pelo mercado após a declaração do Copom sobre a intenção de repetir em maio a elevação da Selic que ocorreu em março – elevada pela primeira vez em quase seis anos.

Essa decisão é consistente com a estratégia do Banco Central com o objetivo de controlar as expectativas inflacionárias e evitar o aumento das projeções para 2021 e 2022. Principalmente com as últimas informações divulgadas pela pesquisa Focus do BC que apontam para os anos de 2021, 2022 e 2023 inflação em torno de 5,15%, 3,64% e 3,25% respectivamente (Relatório Focus 14/05/21).

As expectativas apresentadas para o próximo ano seguem acima da meta central para o período, que é de 3,5%. Além disso, o Índice de Preços do Consumidor (IPCA) – utilizado para analisar tendências de inflação – superou o 6% nos 12 meses até março.

Com isso, para aplacar os efeitos da inflação, o Banco Central iniciou um processo de “normalização parcial” da política monetária, mantendo ainda estímulo à economia através de juros abaixo do patamar considerado neutro que, conforme informações do BC em abril, segue em torno de 6,5%. Contudo, a sinalização do processo de controle inflacionário, mesmo ainda não concluído, acaba por sancionar expectativas de aumentos futuros, com efeitos adversos sobre a atividade.

Para os próximos meses, o Copom já anunciou que as projeções vão depender da evolução das atividades econômicas, balanço de riscos e expectativas de inflação – abrindo possibilidades para continuar com a alta de juros e o processo de normalização parcial e podendo elevar novamente 0,75 pp na próxima reunião que tem previsão de ocorrer nos dias 15 e 16 de junho, passando para 4,25% ao ano.

Esses aumentos podem abortar eventual retomada da atividade econômica que poderia advir em função da evolução do cenário de vacinação da população. Em paralelo as reformas administrativa e tributária não caminham na velocidade e escopo necessários para impulsionar sobretudo os investimentos.

Com o aumento da taxa Selic, consumo e investimento são afetados. Essa é a lógica do controle inflacionário. Curiosamente, o país vem atravessando momento de grande ociosidade, o que por si só não justificaria a elevação da taxa de juro, entretanto o nível de preços tem se elevado por questões relacionadas ao câmbio e a choques de oferta. Neste caso o receituário é o mesmo, retrair a demanda e esperar que juros mais altos aliviem a desvalorização cambial. A retração da economia sancionará o aumento do desemprego, com concomitante queda do investimento. Outra questão relevante é que o aumento da Selic encarece o serviço da dívida pública, aumentando a percepção do risco fiscal. Para quebrar este ciclo se faz necessário recuperar a capacidade de investimento do setor público, que impulsionará o investimento privado.

Reside aqui o grande desafio da país. Como elevar a poupança do setor público e reconstruir sua capacidade de investimentos? Como garantir que recursos serão alocados de forma eficiente?

Aguardemos as respostas.